Nuno Janeiro: “Vou ser um pai muito bacano”
Aos 31 anos, o actor sonha com uma carreira de sucesso no mundo da representação e uma vida a dois com a namorada, Sofia Ribeiro.
– Em “Flor do Mar”, a sua personagem, o Tiago, é toxicodependente. Como se preparou para o papel?
– Tive a sorte de ter um grande amigo meu, que é médico numa clínica de reabilitação para pessoas com esse tipo de problemas, que me explicou os comportamentos, as reacções mais comuns e alguns traços de personalidade, o que me ajudou imenso. Depois, para complementar, tenho uma pessoa muito próxima que era exactamente como o Tiago é com a família, um pouco revoltado. Felizmente, as minhas personagens têm tido sempre uma mensagem forte, e o Tiago não fugiu à regra.
– Na rua, há pessoas que vêm falar consigo sobre toxicodependência?
– Falam, mas até é mais a pedir para eu não tratar mal os meus pais na novela. Também há quem me chame “drogadito”, mas em tom de brincadeira.
– Também foi um adolescente rebelde?
– Nunca me deu para isso, dei as dores de cabeça normais aos meus pais mas nada de pesado.
– Nunca se sentiu tentado pelo mundo da droga?
– Não. Tive amigos com esses problemas, assisti a essas coisas todas, mas, felizmente, tive sempre a capacidade de passar ao lado de tudo.
– Vai sempre buscar exemplos da sua vida pessoal para as personagens?
– Se houver alguma coisa que já tenha vivido, sim; no entanto, por exemplo, com a droga, como eu nunca tinha tido essa vivência, tive de ir buscar a outros lados para perceber como é. Consiste num trabalho de pesquisa.
– Quando vai para sua casa, consegue mesmo abstrair-se do mundo da sua personagem?
– Tem dias. Quando as gravações são muito intensas e tenho cenas com muita emoção, ainda vou um bocadinho arreliado para casa, o que é normal porque estamos ali 12 horas a ir buscar as piores coisas de nós. Mas depois acalmo-me e tento separar as coisas.
– Tem algum ponto em comum com o Tiago?
– Nada tenho a ver com ele, sou o mais tranquilo possível. Sou uma pessoa que está sempre a rir e bem-disposta. Além disso, o Tiago tem menos dez anos do que eu.
– Começou a representar nos “Morangos”, curiosamente com a sua namorada, Sofia Ribeiro. Já a conhecia antes de entrar para a série?
– Já namorávamos há um ano quando entrei para os “Morangos”. Coincidiu estarmos os dois na mesma série, e claro que foi bom ter a pessoa, a Sofia, ao meu lado, para dar apoio. Foi muito importante para mim e, claro, também engraçado, porque, na série de Verão, acabámos por fazer de namorados.
– E conseguiam separar o vosso namoro das personagens?
– Penso que separámos muito bem as coisas.
– Apoiam-se muito? É bom namorar com uma actriz?
– Connosco é diferente, porque como já tínhamos uma relação antes de entrar neste meio a nossa base é outra. Estamos aqui um para o outro e, acima de tudo, tentamos compreender o que este trabalho implica. Sabemos separar as coisas, e isso é o mais importante. O nosso segredo é respeitarmo-nos muito.
– A Sofia é mesmo crítica em relação ao seu trabalho?
– Claro, e ainda bem que assim é. Julgo que temos de ter essa coragem de dizer um ao outro o que está bem e mal e sabermos aceitar isso.
– Recentemente, falou-se de que estariam noivos. É verdade?
– Essas coisas prefiro guardar para mim. Nunca expus a minha vida pessoal.
– Mas gostava de casar?
– Não é uma prioridade. Penso que o casamento é apenas um papel assinado que não vai mudar quase nada.
– Mas vê-se a constituir família?
– Quem é que não gostava? Toda a gente sonha ter uma família, filhos, e eu, de facto, não sou diferente.
– Como pensa que vai ser como pai?
– Acho que vou ser um pai muito bacano. Dentro dos limites, vou dar liberdade aos meus filhos.
– Gostava de ter muitos?
– Uns dois ou três, ou seja, uma família portuguesa normal.
– Imagina-se pai daqui a quantos anos?
– Não sei, às vezes essas coisas acontecem, mas quero que seja planeado – e isso depende de muitos factores, como a estabilidade.
– Antes de representar começou por ser manequim, no entanto dizia que era muito tímido. Como entrou para a moda?
– Foi muito engraçado, porque eu era tímido e não achava muita piada a este meio. Mas houve um amigo meu que insistiu tanto comigo que, mais para lhe fazer a vontade, acabei por ir a uma agência de modelos e fiquei. As coisas começaram a correr logo bem e acabei por ganhar o gosto por esta área. Já entrei tarde, com 24 anos, e só depois é que surgiu a oportunidade de fazer castings para os “Morangos”.
– Antes disso, o que estava a fazer?
– Fiz tanta coisa… Estava naquela altura da vida em que tinha de trabalhar. Já vendi gelados, e antes de entrar nos “Morangos” estava a trabalhar na Diesel. Até que surgiu a oportunidade da representação, que só passou a ser um sonho depois.
– Quando entrou para os “Morangos” a sua vida mudou bastante. Como é que se habituou a lidar com a fama?
– Quando digo que mudou não teve a ver com essa parte, que nem me afecta muito. As pessoas na rua são simpáticas e só tenho um pouco menos de privacidade, mas não me incomoda. A minha vida mudou porque, hoje em dia, acho que é raro as pessoas terem trabalhos de que gostem. E isto foi uma grande volta porque comecei a fazer uma coisa que, realmente, me fez sentir bem.
– Entrou para os “Morangos” com um papel marcante, em que a sua personagem andava de cadeira de rodas. Como se preparou?
– Através da personagem dos “Morangos” tive a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas, que são atletas paraolímpicos, que me deram grandes lições de vida. Tive mais contacto com o Nuno Vitorino, que já foi campeão, porque como o sonho da minha personagem era entrar para os paraolímpicos tive de saber muita coisa: como me movimentar na cadeira de rodas, nadar, que é muito difícil sem mexer a cintura. Conhecer essas pessoas foi um privilégio.
– Custou-lhe entrar nessa realidade?
– Por muito que as pessoas vejam que eles têm dificuldades na rua e que há obstáculos, acho que não conhecem a verdadeira realidade. Eu tive essa percepção e senti que é muito difícil.
– Custou-lhe depois mudar para um outro registo?
– Quando mudei para a novela “Fascínios”, a primeira vez que fui para os ensaios não sabia o que é que estava a fazer, porque passei praticamente um ano sentado, em que as câmaras é que vinham ter comigo. Depois comecei a fazer uma personagem que andava e não sabia o que havia de fazer. Tive quase que começar de novo e adaptar-me a uma coisa que, no fundo, nunca tinha feito.
– Esta é uma área muito competitiva. Nunca teve receio, efectivamente, de ficar sem trabalho?
– Eu acredito que as pessoas têm de fazer pela vida, ir à luta, atrás daquilo que querem, e não, simplesmente, ficar à espera de que o telefone toque com uma proposta. Por isso, se não desse por este caminho tentaria por outro. Mas, por enquanto, as coisas têm-me corrido bem.
– E quando, aos 24 anos, disse que queria ser actor, qual foi a reacção dos seus pais?
– Foram os primeiros a dizer “arrisca, que se alguma coisa não correr como o previsto nós estamos cá”. Em tudo o que fiz na minha vida tive sempre o apoio deles.
– Saiu de casa muito novo?
– Não, saí quando tive de sair, na altura certa. Mas também não sou daquelas pessoas que tinham uma grande necessidade de sair cedo de casa, estava lá bem.
– O que mudou na sua vida a partir do momento em que entrou para o mundo da representação?
– Nada, continuo a fazer as mesmas coisas e vou aos mesmos sítios, com as mesmas pessoas.
– E quando ganhou o primeiro ordenado como actor, houve alguma extravagância que tenha feito?
– Não, faço tudo com conta, peso e medida, até porque nunca sabemos o dia de amanhã. Claro que comprei as minhas coisas mas nada de por aí além.
REFLEXO
– O que vê quando se olha ao espelho?
– Normalmente, sempre uma boa pessoa bem-disposta. É raro ver o contrário.
– Gosta do que vê?
– Há dias em que gosto e outros que nem por isso.
– Alguma vez lhe apeteceu partir o espelho?
– Já parti mas foi sem querer, porque nunca me apeteceu partir nenhum. Sou um bocadinho supersticioso mas não creio que tenha tido sete anos de azar.
– Quem gostaria de ver reflectido no espelho?
– Não faço ideia, mas penso que ninguém. Penso que temos de gostar de ser nós próprios, acima de tudo.
– Pessoa(s) de referência?
– A minha namorada [Sofia Ribeiro] e os meus pais.
– Um momento marcante na sua vida?
– Quando entrei para os “Morangos com Açúcar” foi uma grande volta na minha vida.
– Qualidade e defeito?
– Julgo que a qualidade é o meu bom-humor e o defeito é ser um bocadinho teimoso.