Rute Miranda: “Sou muito romântica”
Aos 34 anos tem uma vasta carreira como actriz. Como é que tudo começou?
A minha carreira como actriz profissional começou quando eu tinha 17 anos. A minha decisão de ser actriz é que começou quando eu era criança. Desde que me lembro nunca quis ser outra coisa. Adorava ler histórias e interpretar as leituras. No 10º ano comecei logo a estudar Teatro na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto; depois tive o convite de uma companhia profissional de teatro para começar a trabalhar. Seguiu-se uma longa carreira de teatro e em 1999 estreei-me na televisão na série da RTP ‘Almeida Garrett’.
Houve alguém na sua família que lhe tivesse transmitido essa paixão pela representação?
Que eu me lembre não. E, muito sinceramente, quando eu decidi seguir teatro até torceram um bocadinho o nariz.
Mas depois ficaram rendidos…
É sempre um orgulho para um pai ou uma mãe ver um filho no palco, com uma sala cheia e a fazer um trabalho com uma certa importância. Mas considero que só aos 17 anos desmistifiquei a minha profissão, quando os meus familiares me viram em cima do palco numa companhia profissional. Porque até aí eu sabia que eles preferiam que eu seguisse outra carreira.
Se não fosse actriz, o que é que se imaginaria a fazer?
Se eu tivesse seguido outra carreira, passaria sempre pela comunicação, nomeadamente Jornalismo. Já trabalhei no jornal ‘Primeiro de Janeiro’, no Porto, e aprendi muito. Foi melhor do que qualquer faculdade.
Hoje, já com todo este caminho percorrido, não se arrepende de ter optado por esta carreira?
Não. Todas as opções que eu tomo, mesmo que saiba que posso correr riscos, encaro-as sempre como uma aprendizagem.
Ser actriz em Portugal nem sempre é fácil, devido à inconstância do trabalho e às questões financeiras. Já sentiu na pele essas dificuldades?Qual é o actor que não sente? Mas essas dificuldade são importantes para um crescimento pessoal. Ao nível financeiro, considera que é bem recompensada pelo trabalho que faz?
Não posso responder que sim nem que não. Tudo é muito relativo. Sou muito feliz naquilo que faço, mas seria muito mais feliz se tivesse mais trabalho. O dinheiro é importante e quem disser que não está a mentir.
Faz teatro, televisão e, recentemente, teve uma participação no filme ‘Second Life’. Em que área gosta mais de trabalhar?
Eu gosto de tudo o que tenha a ver com a profissão. Não consigo dizer de que área gosto mais. Desde que esteja a comunicar, estou realizada. E, felizmente, ao longo da minha carreira tenho tido a possibilidade de trabalhar em vastas áreas.
Sente-se realizada como actriz ou ainda espera alcançar o papel da sua vida?
Um actor é um eterno inconstante. Há muita coisa que eu ainda gostava de fazer e tenho muitos objectivos a realizar. Por exemplo, em televisão não tenho tido um registo cómico e gostaria de ter um desafio que desmistificasse o papel de mulher sensual que tenho feito ultimamente.
Sente que foi rotulada com a imagem de mulher sensual?
Ainda não. Tenho uma genética favorável, mas posso fazer muito mais coisas do que o papel de uma mulher bonita e sedutora.
Esteve a gravar ‘Deixa que te Leve’. Como correu essa experiência?
A minha participação foi de quatro meses, mas já terminei as gravações. Correu tudo muito bem. A minha personagem, a ‘Violante’, é uma mulher que ama muito e é muito romântica.
A Rute também é uma mulher romântica?
Sou uma mulher muito apaixonada e romântica. Não tenho pudor nem vergonha nenhuma em admiti-lo. Adoro que me abram a porta do carro e me ofereçam flores. Gosto de tudo o que seja gestos de romantismo.
Com um ritmo de gravações muitas vezes intenso, sobra o tempo que desejaria para a vida pessoal?
Muitas vezes há pessoas de quem gostamos e com as quais deixamos de estar tão frequentemente, mas há sempre tempo para tudo. Quando o ritmo de gravações é mais intenso, é normal que a vida pessoa fique temporariamente em segundo plano, mas depois compenso.
E como é que é a Rute fora da televisão?
Isso é difícil de responder. Mas gosto imenso de ir ao teatro, à praia, e essencialmente gosto muito de estar com amigos. Eles são a minha grande fonte de energia.
A fama incomoda-a?
Não, a fama não me incomoda nada. Incomoda-me é quando as pessoas dizem que não gostam de ser reconhecidas. Eu gosto que o público me reconheça e aborde. É do público que eu vivo e respiro e, por isso merece todo o respeito.
Nunca teve que mudar nenhum dos seus hábitos devido à sua profissão?
Não. E duvido que aos 34 anos mude. Sou uma pessoa comunicativa. Mas é óbvio que ainda hoje as pessoas me confundem com uma carinha nova que está a chegar. Eu já tenho alguma experiência profissional e agradeço que as pessoas me respeitem nesse sentido, porque nunca me expus em demasia.
Sempre preferiu manter o seu namoro de nove anos em privado…
Sim, eu não gosto de falar da minha vida pessoal. O público merece respeito e merece saber se estou bem e como estou na vida pessoal e emocional. Mas não quero expor pessoas que nunca pediram para ser expostas publicamente.
Na sua opinião, qual é que é o segredo para manter uma relação duradoura?
Acho que para uma relação resultar é preciso as pessoas conhecerem-se muito bem e respeitarem as opções uma da outra. A amizade, a paixão, o carinho e o respeito também são fundamentais.
Pensa em casar-se?
Não é essencial para a minha felicidade casar-me. Não preciso de assinar um papel para as coisas resultarem. O que tem que acontecer será no momento certo, mas ainda não sei qual é.
E a maternidade, faz parte dos seus planos?
Sempre idealizei ser mãe aos 30 anos, mas já passaram quatro anos. Neste momento, ser mãe não faz parte dos projectos. Talvez daqui a dois ou três anos.
Trocou a Invicta por Lisboa há quatro anos. O que a levou a fazê-lo?
Principalmente as saídas profissionais. Tive necessidade de abrir novos horizontes. E gosto muito de estar em Lisboa.
Sente saudades do Porto?
Sim. Tenho saudades de jantar com os meus amigos e do convívio familiar.
Alguma vez se deixou deslumbrar ou sempre teve os pés bem assentes na terra?
Sempre fui uma pessoa com os pés bem assentes na terra, mas pode haver pessoas que achem que eu, em algum momento, me deslumbrei. Conheço muitas pessoas do meio e vejo algum deslumbramento à minha volta, mas eu não.
Já fez alguns trabalhos pontuais em moda. Também é uma área que a fascina?
Trabalho em moda sempre que surge algum convite, mas tem sido muito pouco e não é como manequim nem como modelo, é como actriz convidada. É mais uma forma de comunicação. Não posso negar que trabalhos paralelos à minha actividade principal me dão alguns rendimentos.
Há três anos fez a capa da revista ‘Maxmen’. O que a levou a aceitar o desafio?
Fiz a capa precisamente na altura em que terminei ‘Dei-te Quase Tudo’ e tinha pintado o cabelo de loiro, por isso não há muita associação de imagem. Nunca tinha feito um trabalho de biquíni ou lingerie. Acho que correu muito bem. Foi uma experiência diferente.
Voltaria a repetir?
Dependeria da proposta, da produção, da temática e do momento. Tinha de perceber se o mercado estaria ou não aberto a receber-me.
É uma mulher que se sente bem com o seu corpo?
Há dias que sim e há outros que não. Sei que não aparento ter 34 anos. Mas também trabalho bastante para me manter em forma. Faço ginásio, massagens e trabalho o pensamento, porque se eu estiver bem interiormente reflecte-se exteriormente. Não sou daquelas pessoas que diz que não faz nada para estar em forma e é mentira.
Alguma vez posaria nua para uma publicação?
Não tenho opinião formada, mas posso dizer que fazer um nu frontal está completamente fora de questão. Vi o trabalho na ‘Playboy’ da Cláudia Jacques, porque também é do Porto e a conheço, e está fantástico.
Então não tem qualquer tipo de preconceito em relação a estes trabalhos?
Absolutamente. Não sou preconceituosa em nada na vida e não tenho qualquer vergonha em admiti-lo.
Como é que se imagina daqui a dez anos?
Feliz. Espero cumprir alguns objectivos que são muito pessoais.
Casada?
Não sei responder.
REFLEXO
O que é que vê quando se olha ao espelho?
Vejo uma mulher de 34 anos bem-disposta, alguns dias menos bem, com muitos objectivos definidos e ainda por cumprir.
Gosta do que vê?
Tem dias. Há dias que acordo menos bem-disposta. Mas principalmente gosto muito de mim. Se eu não gostar, quem gostará?
Alguma vez lhe apeteceu partir o espelho?
Já parti tantos… Não sou nada supersticiosa. O que tiver de acontecer acontece.
Quem gostaria de ver reflectido no espelho?
Todas as pessoas que amo.
Pessoa de referência?
A minha avô paterna. Já morreu há 15 anos, mas eu, praticamente todos os dias, penso nela. Foi a pessoa que, em termos humanos, me transmitiu mais valores. Era fantástica. Tinha conversas com ela que não tinha com os meus pais.
Momento marcante na vida?
Foi o falecimento dessa minha avó.
Qualidade e defeito?
A minha maior qualidade é a amizade. O defeito é ser teimosa.
Fonte: Correio da Manhã